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Especialistas e profissionais da educação são contrários à retomada das aulas presenciais em Minas Gerais

Especialistas e profissionais da educação são contrários à retomada das aulas presenciais em Minas Gerais

Especialistas e profissionais da educação contrários à retomada das aulas presenciais afirmaram nessa quarta-feira (7), durante uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que o exemplo de outros estados, que tiveram surtos da Covid-19 após a retomada das atividades, e o risco de novos contágios para estudantes, familiares e professores devem ser considerados para manter as escolas fechadas no estado.

A discussão sobre o retorno às aulas presenciais ganhou força depois que o Governo do Estado anunciou que planeja retomar as atividades nas escolas públicas estaduais a partir de 19 de outubro e, inicialmente, apenas para os alunos do último ano do ensino médio. Na terça-feira (6), o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) concedeu liminar que suspende esse retorno às aulas, acatando mandado de segurança do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG).

“A única medida eficaz para mitigação da epidemia ainda é o isolamento social. Sou contra o retorno presencial não por uma opinião pessoal, mas porque a ciência diz que não é seguro e porque conheço a realidade das escolas”, afirmou a presidenta da Comissão de Educação, deputada Beatriz Cerqueira (PT), que cobrou respeito do Executivo à decisão da Justiça estadual. Durante a realização da audiência pública foram citados vários exemplos dos riscos que alunos, familiares e professores correm se as aulas forem retomadas neste momento.

“Esse passo da volta às aulas é o mais perigoso para o retorno da doença. A cidade de Manaus, capital do Amazonas, é um exemplo de aumento do número de casos de Covid-19 após o retorno ao ensino presencial", afirmou Diego Xavier, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fiocruz. Especialistas destacaram que aulas presenciais neste momento ameaçariam 400 mil pessoas do grupo de risco. Citando dados demográficos de 2013, Diego Xavier afirmou que Minas Gerais apresentava 403.396 pessoas com diabetes, doenças cardíacas ou de pulmão, e que conviviam em casa com alguma criança ou adolescente em idade escolar. 

Membro do Comitê de Combate ao Coronavírus da Prefeitura de Belo Horizonte, o infectologista Carlos Starling apresentou um estudo sobre a taxa de transmissão de Covid-19 nos municípios mineiros após seis meses de pandemia. Sua conclusão foi que apenas um quarto dos municípios de Minas apresentariam taxas que podem permitir uma flexibilização das aulas presenciais. Diego Rossi, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), indicou uma estimativa de que 5% dos estudantes contaminados poderiam evoluir para casos graves.

A vontade da comunidade escolar foi outro argumento utilizado pelos participantes da audiência pública para se opor à retomada das aulas presenciais. O Fórum Estadual Permanente de Educação de Minas Gerais (Fepemg) apresentou uma pesquisa realizada em 767 municípios, ouvindo 32.169 pessoas, entre professores (48%), estudantes (23%), familiares (18%), outros funcionários (8%) e gestores (3%). Entre eles, 90,3% se posicionaram de forma contrária à retomada, neste momento.

Outro dado da pesquisa é que 50,28% dos que foram ouvidos acreditam que o retorno às aulas presenciais só deve ocorrer após a disponibilização de uma vacina contra o novo coronavírus. A representante do Fórum, Ana Maria Saraiva, acrescentou que, neste momento, o Estado não pode jogar a responsabilidade de uma decisão tão complexa para os pais.

A mesma oposição ao retorno das aulas veio de estudantes e familiares que participaram da audiência pública. “As aulas não podem voltar, porque nós, estudantes, estamos muito inseguros”, afirmou a estudante Dayane Ketelen Araújo, da Escola Estadual Geraldina Ana Gomes, em Belo Horizonte. Dayane disse que mora com sua avó, que é asmática e tem pressão alta, o que aumenta seu temor em relação ao contágio. “A gente sabe que muitos alunos não estão respeitando o isolamento, e as salas são pequenas”, ressaltou a estudante.

A coordenadora-geral do Sind-UTE/MG, Denise Romano, afirmou que os protocolos e regras elaborados pelo Governo do Estado, a fim de orientar a retomada das aulas presenciais, não refletem a realidade das escolas. “Das 3.601 escolas, 1.114 têm banheiros compartilhados por professores e alunos, e 940 não têm refeitório”, afirmou. Ela também alertou que os números de casos de Covid já sugerem um novo crescimento da infecção em Minas.

A Secretaria de Estado de Educação foi representada no debate pelo subsecretário de Articulação Educacional, Igor Alvarenga. Ele ressaltou que a retomada proposta pelo Estado não é generalizada, mas apenas para os alunos do último ano do ensino médio. Ainda assim, apenas para as regiões que estão classificadas na onda verde do Plano Minas Consciente, e só em municípios onde não haja posição contrária da prefeitura. “Estamos respeitando a autonomia local”, afirmou.

Fonte: site da Assembléia Legislativa de Minas Gerais

Especialistas, profissionais da educação, alunos e familiares foram ouvidos de forma presencial e remota (Foto:Henrique Chendes)

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