Saúde

Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia destaca que somente 1% de adolescentes do sexo masculino vai ao médico

Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia destaca que somente 1% de adolescentes do sexo masculino vai ao médico

Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com 267 estudantes de escolas públicas e privadas de 12 estados brasileiros revelou que ainda é bem reduzido o número de adolescentes do sexo masculino de 12 a 18 anos de idade que frequenta o consultório médico. Apenas 1%, contra 34% de meninas da mesma idade que vão anualmente ao ginecologista. A sondagem faz parte da terceira edição da Campanha #VemProUro, da SBU, que acontece no mês de setembro e tem como objetivo incentivar a ida dos meninos ao médico para avaliação, orientação e esclarecimento de medidas preventivas de saúde.

O idealizador e coordenador da campanha, Daniel Zylbersztejn, ressaltou nesta quarta-feira (23), em entrevista à Agência Brasil, que a iniciativa destaca a importância do adolescente ir não somente ao urologista, mas a um médico que tenha foco de atuação na adolescência, como um clínico geral, pediatra, médico de família, endocrinologista, infectologista para avaliar a saúde. “Há uma gama de profissionais que podem atender o adolescente”, disse. Segundo Zylbersztejn, a diferença grande da ida das meninas ao médico em comparação aos meninos se reflete na qualidade de vida que as mulheres têm em relação aos homens.

“Não é à toa que as mulheres vivem mais do que os homens. A mulher tem o hábito de se cuidar mais, de promover mais saúde do que os homens. Estes procuram o médico, essencialmente, quando têm algum problema de saúde e acaba não tendo uma rotina”, declarou Zylbersztejn. Segundo ele, isso acaba tendo reflexos na vida adulta. "Se o adolescente não cria o hábito de ir ao médico para fazer uma prevenção de doenças, de situações de risco, acaba entrando em contato com o uso de drogas, tabagismo, falta do uso de preservativos", afirmou o médico.

Zylbersztejn explica que ao tomar este tipo de atitude o adolescente fica sem promoção de saúde, de higiene bucal e de atividade física e acaba ficando exposto à contaminação pelo HPV, sem higiene genital, que é causa em muitos homens do câncer de pênis no futuro, de acordo com o médico. Isso ocorre com mais frequência em todas as regiões do Brasil que não tenham bom saneamento. As pessoas têm pouco acesso à saúde e maus hábitos de higiene. “Quanto mais pobre for a região do país, maior é o risco de desenvolvimento desse tipo de tumor”.

Em relação à sexualidade, a pesquisa identificou que 35% dos jovens não usam preservativos em relações sexuais. Isso vai ao encontro de pesquisas sobre HIV, que mostram que hoje o adolescente tem três vezes mais HIV do que há cinco anos, observou Zylbersztejn. “O adolescente está se cuidando menos e por mais que se tenha informação de que o preservativo é importante, essa comunicação de alguma maneira está sendo falha”. 15% dos entrevistados já tiveram uma iniciação sexual, sendo que 44% não usaram preservativo na primeira relação e 38,57% dos meninos revelaram não saber sequer colocar a “camisinha”.

Os dados preliminares da pesquisa mostram que falar sobre sexo ainda é tabu entre os jovens de 12 a 18 anos. Quase 50% dos meninos não se sentem à vontade para falar na escola sobre sexualidade, relações sexuais, doenças transmissíveis. Cerca de 30% não falam com os pais sobre esses temas. "Eles preferem falar mais sobre sexo com os amigos (33%), 41,67% preferem não falar com ninguém “ou buscam informações sozinhos, o que é muito ruim, porque a chance de serem desinformados é muito grande. A internet é um saco de gatos e a desinformação aparece antes da informação”, disse o médico.

Sobre a pandemia da Covid-19, Zylbersztejn destacou que a principal consequência da doença na vida dos adolescentes, apontada por 76% dos consultados, foi o afastamento do convívio dos amigos. “Isso mostra o quanto o grupo é importante para a formação da identidade desse adolescente.” Em segundo lugar, aparece para 67,65% o aumento da irritabilidade, da ansiedade e piora do humor. "Quase 70% dos adolescentes sentem seu humor alterado por sintomas ruins de ansiedade e depressão. A adolescência não combina com distanciamento social. Muito pelo contrário. Eles sofrem bastante”, declarou Zylbersztejn.

Outra consequência do isolamento foi o incremento da permanência dos jovens diante do computador ou celular. A maioria passava antes duas horas conectados e agora estão passando mais de seis horas conectados. Antes da pandemia, 17,39% dos jovens afirmaram que faziam uso das tecnologias digitais. Atualmente, o índice subiu para 59,4%. “Eles estão se conectando ao mundo virtual, não ao mundo real”, disse o médico, o que pode trazer dificuldade de sociabilização no futuro. “O adolescente precisa sociabilizar, precisa andar em grupos. Se ele não anda em grupos, não aprende a se sociabilizar da forma adequada, não aprende a troca de experiências reais. E, com isso, ele pode ter prejuízo na sua própria formação de identidade”, completou o médico.

A pesquisa identificou que a expansão do acesso às telas modificou a forma dos adolescentes exercerem a sexualidade durante a pandemia.  16% dos adolescentes ouvidos afirmaram ter aumentado a frequência de sexo virtual via conteúdos eróticos 'online'. Durante a quarentena também foi registrado um aumento no sedentarismo. 60,29% dos adolescentes afirmaram ter reduzido suas atividades físicas. Somente 5% disseram que não houve nenhuma alteração que tenha prejudicado de alguma forma sua vida. “O sedentarismo aumentou, a alimentação piorou, a atividade física diminuiu”, declarou Zylbersztejn.

Antes da pandemia, 82,3% dos adolescentes relataram fazer algum tipo de atividade física ao menos duas vezes por semana. Após o surgimento da covid-19, 53,6% declararam não praticar nenhuma atividade física ou apenas uma vez por semana. Cerca de 67,1% dos adolescentes narraram beber refrigerantes de uma a duas vezes por semana e 54,2% aumentaram a ingestão de 'junk foods' (comida rica em calorias e de baixa qualidade nutritiva, como batata frita, salgadinhos, biscoitos recheados etc). A pesquisa ressaltou ainda que 52,9% dos adolescentes informaram seguir a quarentena em isolamento social, 42,6% só saem de casa para atividades básicas como supermercado, médico e farmácia e apenas 4,4% não estão seguindo as normas de segurança.

Fonte: Agência Brasil

Foto: IconicBestiary/iStock 

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